3A evolução da tecnologia e da inteligência artificial têm aberto possibilidades nunca antes contempladas pela humanidade.
Em nossa trajetória humanista, tivemos em nosso percurso revoluções que vão deste a agrícola à industrial, extinguindo algumas atividades e criando novas profissões, novas dinâmicas de oferta e demanda, criação de novos “sistemas”. Mas nunca antes tivemos uma força tecnológica tão forte e a impressão que nos passa é que tudo será engolido por tal força.
Hoje vislumbramos uma fusão entre duas áreas, que resulta na biotecnologia. Não só as dinâmicas do sistema em que vivemos sofrerão grandiosas alterações devido ao desenvolvimento exponencial tecnológico, mas a própria essência do ser humano, ressignificando o que é ser humano.
Hoje por exemplo, existem dispositivos que têm condições de intervir na neurociência humana, de forma a permitir que as pessoas melhorem suas habilidades através do uso de dispositivos que monitoram e otimizam seus estados mentais.
Se os seres humanos são conjuntos de dados e processamento, então são passíveis de serem “hackeados”. A felicidade é subjetiva, mas as reações eletroquímicas cerebrais são universais. Hoje já é possível promover tais reações de maneira artificial, seja através de antidepressivos ou eletrodos externos. Hoje o maior desafio é desvendar os segredos do funcionamento da mente, mas talvez não estejamos também assim tão distantes disto.
O sistema está a serviço dos humanos ou os humanos estão a serviço do sistema? Numa era onde o humanismo é a nova religião, a desigualdade ainda persiste: os 1% mais ricos detêm 44% da riqueza global; os 10% mais ricos, 82%; e os 50% mais pobres, apenas 1%.
O novo humanismo – ou trans humanismo – irá diminuir ou aumentar esta desigualdade? Quando chegar a hora, os novos super-humanos serão uma elite específica ou todos teremos acesso às “versões atualizadas” em primeira mão?
E as profissões? Automação, inteligência artificial e robotização terão um impacto significativo no mercado de trabalho. Quantos anos irão demorar para que motoristas Uber sejam substituídos por carros autônomos, como do Google ou Tesla? Assim como os Taxis sofreram com a novidade do Uber, Ubers sofrerão com as novidades das tecnologias vindouras. E será assim em quase todas as profissões. É questão de tempo.
Se os principais problemas da humanidade forem resolvidos através da tecnologia (como peste, fome e guerras) e não houver necessidade de grande parte dos trabalhadores braçais (assim como grande parte de muitos intelectuais), ao que restará à humanidade? Buscar a imortalidade, felicidade e divindade? Pode parecer absurdo, mas ao vislubrar o horizonte, a espécie humana já leva estes itens em consideração. E temos avançado cada vez mais em menos tempo.
Em um mundo em rápida transformação, as perguntas que emergem são complexas e desafiantes. À medida em que a tecnologia nos aproxima de possibilidades antes inimagináveis, é importantíssimo refletirmos sobre nosso papel como indivíduos e como sociedade. O futuro está sendo moldado, e cabe a nós decidir que tipo de futuro queremos criar. Isso se a IA não nos moldar primeiro…
(reflexões feitas a partir do livro: Homodeus – Yuval Harari, 2015)