A teoria financeira e econômica parte do pressuposto de que os indivíduos agem racionalmente e consideram todas as informações disponíveis no processo de tomada de decisões. Porém, é mais complexo do que parece.
Ao longo dos últimos anos, este pressuposto vem sendo sistematicamente questionado por pesquisadores. A partir de evidências empíricas, eles chegaram a conclusões que na prática desmentem tamanha racionalidade. Os vencedores do Prêmio Nobel de 2002, Daniel Kahneman e Vernon L. Smith, inovaram em dois campos que têm revolucionado a teoria econômica nos últimos anos:
A Psicologia Cognitiva, que estuda os processos de tomada de decisão dos seres humanos, e a Economia Experimental, que testa os modelos econômicos em laboratórios. “O ser humano muitas vezes toma decisões em desacordo com a lei das probabilidades e com a teoria econômica tradicional.”
A behavioral finance é dividida em três grandes temas:
a) Viés Heurístico:
Heurística é o conjunto de regras e métodos do qual lançamos mão inconscientemente para compor nossa visão do mundo. Tal conjunto de regras e métodos é profundamente influenciado pelas informações disponíveis, com destaque para as mais recentes. Este processo leva os indivíduos a cair na armadilha conhecida como “availability bias”. Outro exemplo emblemático verificou-se no mercado japonês. No pico de rentabilidade, em 1989, 14% dos investidores esperavam um crash iminente da bolsa. Após o estouro da bolha japonesa, 32% dos investidores aguardavam novo crash.
b) Frame Dependence:
O foco está na maneira como as pessoas lidam com o risco. Em “Prospect Theory”, um dos trabalhos mais famosos de Kahneman, conclui-se que as pessoas reagem de forma desproporcional a ganhos e perdas, ao contrário do que reza a teoria econômica tradicional. A infelicidade com a perda de US$1 mil é muito maior do que a felicidade gerada pelo ganho dos mesmos US$1 mil.
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Em outras palavras:
O apetite ao risco dos investidores é maior em posições perdedoras do que em posições vencedoras. Ao se defrontar com a perda certa, os indivíduos preferem apostar alto – e muitas vezes com probabilidades contra eles na recuperação da perda. Ao se defrontar com o ganho certo, os indivíduos se tornam avessos ao risco, mesmo que as probabilidades estejam a seu favor.
c) Preços Ineficientes:
“Os mercados podem se manter irracionais por mais tempo do que você consegue se manter solvente.” – John Maynard Keynes.
O fenômeno conhecido como “overconfidence” leva a assumir riscos muito acima do prudente. Em outro teste feito por Kahneman, em 1998 no JPM, foram repetidas por meses as seguintes perguntas para um grande número de investidores: Qual o valor máximo e mínimo, com 99% de possibilidades, que o Dow Jones poderá atingir em 1 mês? Entretanto, verificou-se que, em 20% dos períodos, a variação do Dow Jones ficou fora do intervalo sugerido, quando o percentual esperado seria de 2%. O estudo revela tendência natural dos investidores de superestimar suas capacidades de projetar o futuro. Na prática, o inesperado se faz presente com frequência muito superior àquela que imaginamos a priori.
“Os investidores são constantemente surpreendidos por eventos “inesperados” em função de calibrarem mal suas expectativas e é, em geral, nestes momentos que a emoção passa a dominar a razão no processo decisório.”