A Dexter Shoe Company: O Anjo (da Morte)
Em 1993, a Berkshire Hathaway, de Warren Buffet, comprou a Dexter Shoe Company, uma fábrica de sapatos para o mercado de catálogos de marcas próprias, fornecendo para lojas como Sears, JC Penney, Spiegel e Montgomery Ward & Co. A Dexter fundada em 1956 por Harold Alfond, filho de imigrantes judeus russos, se tornou uma grande fábrica de sapatos de primeira linha e também a primeira loja de outlet de fábrica nos EUA.
Embora a Dexter tenha sido bem-sucedida desde o início, Alfond cansou de ser controlado por alguns grandes clientes e decidiu entrar no negócio de “marca própria”. Mesmo com o sucesso dos sapatos de marca da Dexter, e com suas lojas outlet de fábrica que expandiam rapidamente e ficava cada vez mais presente em shoppings, a competição era árdua.
Mas havia um problema que Buffett e Alfond não percebiam: as barreiras de entrada nesse setor. O negócio de vender os FDs (sapatos danificados) para resellers por cerca de US$1 o par, e então os revender por cinco vezes o seu custo, não era o suficiente para competir com a fabricação no exterior de baixo custo e larga escala. Por essa razão, grandes redes de varejo dos EUA tinham interesse em comprar a Dexter na década de 1980.
As ofertas prometiam rápida expansão, mas enfatizariam a produção estrangeira e, provavelmente, o afastamento da família na gestão da Dexter. Alfond finalmente decidiu vender para a Berkshire Hathaway, com um acordo de não interferir na gestão da família. Em 1993, a Dexter e suas afiliadas, foram vendidas por US$433 milhões em ações da Berkshire. Porém, a compra da Dexter com ações da Berkshire, tinha sido o pior acordo já feito, de acordo com Buffett.
Para ser preciso, Buffett cometeu mais de um grande erro ao comprar a Dexter Shoe Company. O primeiro erro foi um erro de cálculo sobre a perspectiva de Dexter. A Berkshire comprou a Dexter por conta de seu alto retorno sobre o capital empregado. Mas eles não levaram em conta a ameaça competitiva que a empresa enfrentou com sapatos baratos vindos de países como a China.
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Buffett percebeu isso em 1999, quando escreveu que estava sendo um desafio para os fabricantes nacionais competirem no negócio de calçados. Na época, 93% dos 1,3 bilhões de pares de sapatos comprados nos EUA, vinham do exterior. A lição? você deve analisar a vantagem competitiva duradoura do negócio antes de investir. A competitividade duradoura já não é um fator de boa qualidade. É um fator obrigatório para qualquer negócio.
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Isso porque o segundo erro, e talvez o pior, foi a Berkshire comprar a Dexter não em dinheiro, mas em ações classe A. Foram 25.203 ações que valiam US$433 milhões na época da aquisição. A ação classe A que custava cerca de US$15 mil em 1993, é avaliada hoje em US$470 mil. Um prejuízo, pasmem, de US$11,8 bilhões aos acionistas.
Portanto, a lição é nunca vender seus vencedores para fazer apostas arriscadas.
Trechos das cartas da Berkshire e Buffett sobre a Dexter:
“Dexter, garanto a vocês, não precisa de conserto: é uma das empresas mais bem administradas que Charlie e eu já vimos em nossas vidas”, disse Buffett na carta de 1993. Dexter era uma “joia dos negócios” e era uma “boa decisão” adquirir com ações da Berkshire. “Eu dei 1,6% de um negócio maravilhoso… para comprar um negócio sem valor”, admitiu Buffett em carta anual da Berkshire.
A euforia de Buffett pela Dexter era tanta que ele cantava “There’s No Business Like Shoe Business” – Não há negócio como o do calçado – dirigindo para o trabalho.
“Eu claramente cometi um erro ao comprar a Dexter e agravei esse erro de forma enorme pagando em ações da Berkshire”, disse Buffett na carta de 2000.